domingo, 27 de fevereiro de 2022

METÁFORA DO APOCALIPSE – Eliana Mora

 

Para quem pensa que os deuses
ainda estão preparando algum sermão
para quem reza todo dia
se ajoelha por perdão a seus pecados
antes mesmo de os cometer
[sequer sonhar]
para quem teme e somente se alivia
com muita privação
[e com muita hipocrisia]
Para quem prevê um acontecimento
para quem lembra que a Bíblia
falou em Apocalipse
alguma coisa que seria
nos anos dois mil
[e Nostradamus também anteviu]

E tal e qual para
quem acha que nada está errado
que o mundo virou apenas do outro lado
porém que ao segurar com jeito
ele não cai
só entorta um pouco
[já existe uma torre com defeito]

Nada de temer de se humilhar
de se punir
nada de verter crocodilos
pelos olhos
[e de pensar Oh como antes era bom]
nada de esperar acontecimentos
estrambólicos
como fogo furacão
ou terremoto
águas portentosas
ou volúpia de vulcão

Por que o homem
esse amor de criatura
[ele mesmo]
conseguiu concluir tudo a seu jeito
e para tal estratégia perpetrar
nem precisou de seu deus
sua fé ou devoção
nem sequer de se vergar
a algum preceito

O que mais se alardeava
já chegou
e chegou deixando alguns avisos
que eles [os homens]
não quiseram ver
por detrás de seus óculos de
fundo de garrafa
do interesse pessoal
e do Poder

Chegou o Apocalipse
antes da hora
em que tantos magos e videntes
se inspiraram
ou encheram suas burras de dinheiro
daqueles que só temem o castigo
[ou mesmo de profanos]
todos à cata de um espaço
no cargueiro

Chegou a hora sim
meu companheiro
a metáfora do Fim já está aí
o mundo definha como fruto murcho
e atônitos nos deparamos
a constatar a preocupação geral
com gravatas relatórios
e charutos

E com nada acontecendo
de isolado
está tudo meio doido
atrapalhado
ao mesmo tempo sob controle
do Global
e ao mesmo tempo
por demais descontrolado

Como se o momento da implosão
fosse avançando
e uma ilha pendurada
em lindos sonhos de cristal
fosse ficando a meio pique
perdendo seu rumo
para juntar-se às garrafas
que flutuam
na imensidão de um
azul celestial

[Quem iria adivinhar
o Homem
assim obediente
a uma cisma milenar?]

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