domingo, 7 de novembro de 2021

ORDEM DE INSPEÇÃO – Raúl Rivero

 

Tradução de Antônio Miranda
..........
Que buscam em minha casa
estes senhores?

Que faz este oficial
lendo a folha de papel
em que eu escrevi
as palavras “ambição”, “leve” e “quebradiça”?

Que indício de conspiração
encontra ele na fotografia sem dedicatória
de meu pai com guayabera* (lacinho preto)
nos prédios do Congresso Nacional?

Até onde aplicará suas técnicas de interrogatório
quando leia as décimas
e descubra as feridas da guerra
de meu bisavô?

Oito policiais
revisam os textos e desenhos de minhas filhas
se infiltram em minhas relações afetivas
e querem saber onde dorme Andreita
e o que tem a ver sua asma
com meus portfolios.

Querem o código de uma mensagem de Zucu
e na parte superior de um texto críptico
(aqui esboça um sorriso triunfal de camarada):
“Castelos são caixas de música.
Não deixo sair com Coco. Yeni.”

Veio um especialista em interstícios
um crítico literário no nível de cabo interino
que auscultou à ponta de pistola
as lombadas dos livros de poesia.

Oito policiais
em minha casa
com uma ordem de inspeção
uma operação limpa
uma vitória plena
da vanguarda do proletariado
que confiscou minha máquina Cônsul
cento e quarenta e duas páginas em branco
e um papelório triste e pessoal
que era o mais transitório
que tinha neste verão.

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