Tradução de Adalberto Müller
.........
FOMOS MURCHANDO
Perdemos a saúde
e nos brotaram brotoejas
grandes como melancias a ponto de estalar.
A maleita e seus acólitos
nos minaram o sangue,
nos carcomeram os ossos,
nos infectaram irremediavelmente o cérebro,
o coração das tripas,
as mãozinhas ternas-suaves.
Perdemos a terra, a água,
perdemos o ar, o vento, a alegria.
O nosso fogo foi apagando
pouco a pouco, murchando:
e faz tanto tempo que não chove!
..........
O QUE FICA PRA NÓS
Todos os dias
se inauguram cemitérios.
Vivemos cavando sepulturas.
O contrabando de lápides e caixões
é a última moda.
Ninguém quer morrer
sem uma reza,
sem seu panteão último modelo.
Tudo entra de forma clandestina.
Tudo é gringo, tudo importado,
menos o medo
que continua sendo autóctone.
.............
UMA FORMA DE DIZER
Ontem sonhei com as moléculas,
com edifícios, com o vento norte
e com os raros poros da tua pele.
Ontem sonhei contigo.
Eram os átomos do infinito
querendo te dizer pequenas coisas:
como que beijos são isso e nada mais
e às vezes não sabemos o quê,
que os sorrisos, os olhos,
as mordidinhas
são uma forma de a gente se gostar,
uma forma de dizer
que já não sabemos o que será o amanhã.
..............
DEMÔNIOS
Os demônios faziam turnos, obedientes.
Subiam e desciam
aparentemente sem lógica.
Demônios precisos e bonitos,
desses que sabem engordar
a esperança dos pobres.
Demônios brancos,
demônios corados
como o fogo eterno
que nos tenta e nos queima.
Demônios espectrais,
Demônios carcereiros,
escuros de muito amanhecer.
Utopistas enfim
e cheios de boas intenções.
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FOMOS MURCHANDO
Perdemos a saúde
e nos brotaram brotoejas
grandes como melancias a ponto de estalar.
A maleita e seus acólitos
nos minaram o sangue,
nos carcomeram os ossos,
nos infectaram irremediavelmente o cérebro,
o coração das tripas,
as mãozinhas ternas-suaves.
Perdemos a terra, a água,
perdemos o ar, o vento, a alegria.
O nosso fogo foi apagando
pouco a pouco, murchando:
e faz tanto tempo que não chove!
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O QUE FICA PRA NÓS
Todos os dias
se inauguram cemitérios.
Vivemos cavando sepulturas.
O contrabando de lápides e caixões
é a última moda.
Ninguém quer morrer
sem uma reza,
sem seu panteão último modelo.
Tudo entra de forma clandestina.
Tudo é gringo, tudo importado,
menos o medo
que continua sendo autóctone.
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UMA FORMA DE DIZER
Ontem sonhei com as moléculas,
com edifícios, com o vento norte
e com os raros poros da tua pele.
Ontem sonhei contigo.
Eram os átomos do infinito
querendo te dizer pequenas coisas:
como que beijos são isso e nada mais
e às vezes não sabemos o quê,
que os sorrisos, os olhos,
as mordidinhas
são uma forma de a gente se gostar,
uma forma de dizer
que já não sabemos o que será o amanhã.
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DEMÔNIOS
Os demônios faziam turnos, obedientes.
Subiam e desciam
aparentemente sem lógica.
Demônios precisos e bonitos,
desses que sabem engordar
a esperança dos pobres.
Demônios brancos,
demônios corados
como o fogo eterno
que nos tenta e nos queima.
Demônios espectrais,
Demônios carcereiros,
escuros de muito amanhecer.
Utopistas enfim
e cheios de boas intenções.
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