terça-feira, 16 de novembro de 2021

DOIS SONETOS – Vivita Cartier

 

IN PULVIS
(Inscrição para meu túmulo)

Aqui jazem os trágicos horrores
Do decompor sinistro da matéria;
Não te detenhas, pois, nesta miséria
Oh! Não deponha sobre a lousa flores...

Segue... é vazia esta mansão funérea;
Minh'alma paira além com seus fulgores,
Volve-te a ela, a ela manda flores
Através do pensar, com graça etérea.

Vai prescrutá-la em qualquer sítio lindo!
Ela é tão forte como o mar bramindo
E tem a suave tepidez dos ninhos...

Aspira-a, pois, nas brisas cariciantes
Desvenda-a nas estrelas cintilantes
Evoca-a no cantar dos passarinhos!
..............
IMORTAL

Tenho o corpo abatido, o olhar tristonho;
recôndita opressão me esmaga o peito;
falta-me o ar, nunca respiro a jeito;
se me obrigam a andar, logo me oponho.

No espaço indefinido os olhos ponho,
atirada, sem forças, sobre o leito.
E penso… penso nesse gozo eleito
duma vida futura, com que sonho…

Embora humilde, resignada embora,
sucumbo ao negro horror que me apavora,
se pressinto um tormento prolongado.

E anseio pela queda da matéria,
para minh’alma, em escalada etérea,
chegar, enfim, ao mundo desejado…

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