sexta-feira, 26 de novembro de 2021

TRÊS POEMAS – Mayrant Gallo

A ESTRADA

Sim, um dia vão me cobrir.
Eu, a estrada.
Mas receio que prefira assim.
Eu, que levava ônibus e autos,
Caminhões longos e pesados,
Leves motos,
Hoje sou quase mato.

Venham, pequeninas folhas!
Cheguem, pequeninos talos!
Sou toda vocês.
Não permitam que eu volte a chorar com o pai,
Que vê sua filha caída e coberta de branco
à beira de mim
E que, ao descobrir o rosto
- o imóvel e jovem rosto sem sangue,
Também morra ou perca o rumo.

Tirem de mim o rumo.
Me desviem.
Me cubram.

Eu quero. Eu devo.
Eu sonho com isso.
Me façam mato de novo,
Terra de novo,
De novo sereno.

E depois deixem,
Apenas deixem,
Que o céu seja pleno.
..............
CEDO

O rapaz que entrega os jornais
é o primeiro a se levantar
mas você não sabe.

Noite ainda, sol ou chuva.

É o primeiro e de moto percorre
toda a cidade.

Enquanto você dorme
enquanto você morre.
...............
CRÔNICA

No bar parado
Baço de cigarros
A vida vinha aos goles...

Uma menina disse, mais tarde:
- Salvem-me...
Mas ninguém entre os homens
Quis salvá-la...

A menina enforcou-se.

Ao saberem, os homens
Foram vê-la pendurada...

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