segunda-feira, 22 de novembro de 2021

SILÊNCIO – Edith Derdik

 

algumas outras palavras
vem do choque
sentenciam uma onda sem água
esfarelada no ar
onda bate em algo de nada em nada
tão fácil não tão fácil
um silêncio

nuvem carrega saturno
chuva chove
olho cimentado de suor
nuvem carregada de chuva
nem vento dissipa silêncio assim
um silêncio

pedra opaca sem lugar definido
pedra comove uma espécie de dentro
pedra muda nem sai do ponto
elegância discreta aparece
parece vulto
vem por trás e corrói e afirma
quando assim é assim
um silêncio

tempestade de ar e areia e água
de grão em grão, mil grãos chapiscam
na pele na sombra na sobra
dia horário lugar
estreiteza que alarga
líquido que não se contém
esparrama pelas bordas e margens em desvios
um silêncio

sol na sombra e a falésia cai
fim de dia meio de tarde
sol na altura da falésia
a penumbra assombra
traça na terra a graça de uma sombra
caixa preta a céu aberto
luz veloz no limite da lâmina solar
inventa falésia parada cortada em viés
contorno sombrio lúcido cravado nos grãos de areia
deserto-praia vira mar virá e verá
abafa som e timbra olho
sobra linha de horizonte em acordes
um silêncio

silêncio é acordo
o silêncio me acorda

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