A pedra que percorre
o Rio de Janeiro
iniciou seu percurso
na fonte, pedra na banda
podre que se espalha
na escuridão com tiros,
bombardeios, sacrifícios,
crianças armadas de neblina,
tiro no escuro, furo,
que do alto do morro
ninguém acerta,
ninguém vê ou alerta.
A pedra rola pela escadaria,
as trincheiras estão por ali,
o calabouço já não é refúgio
e ser preso faz parte do cenário.
Pedra que vira manchete
da revista, pedra que está
no pó, no centro do morro,
pedra sem horizonte.
Pedra de coca, pedra de crack,
pedra na pedra.
É dura essa vida tão curta,
criança que já nasce armada,
pedra que corre e se esconde
vai de um morro a outro
como se voar fosse nada.
Pedra no dentro da madrugada?
Madrugada no dentro da pedra?
Pedra que brincar desconhece,
pedra em escola não vai,
pedra aviãozinho, pedra no asfalto,
pedra na Maré, pedra na Rocinha,
pedra no Leblon, Pavãozinho?
Rola essa pedra na margem,
já que a tangente é nada,
essa viagem é curta, abrupta,
pedra na jaula jogada.
Pedra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário