sábado, 6 de novembro de 2021

ELEGIA DA LEMBRANÇA DO TEMPO - Diego Mendes Sousa

 

Outra vez cá estou,
mudo, calado, inabitado
em meus poemas de dor.
Bagagem de passageiro
vespertino
que viu tudo, teve nada,
na sua preservada carga
de ligeira saudade.
Passa o tempo,
Deus guarda.
Ou preserva o tempo
dilacerado, redivivo.
Que o tempo é sábio,
sabe muito e sabe pleno.
E divide a vida em espaços
de alegrias inúteis
no desafogo dos sonhos.
Outra vez cá estou
soturno, no presságio,
olho amargo
a arder em lágrimas secas
em maremoto sem água
como queima o coração
cheio
cheio de lembranças
cheio de cheiros
cheio de noites
cheio de passado
cheio de sentimentos
cheio de pássaros
cheio e extravasado
cheio...
cheio de mim
sou elo
chuva
fluido
a recordar
a serpentear
casa,
jasmim,
memória
e a eternidade ao lado,
em outra porta
à saída desgovernada.

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