sexta-feira, 12 de novembro de 2021

CORDEL - Carlos Silva (Cipó/BA)

 

Botei um cacho de água
Pendurado na janela
Acendi meu candeeiro
Com o facho dos olhos dela
Preguei um raio que caiu
No batente da janela

Peguei o bravo trovão
Que parou de trovejar
Porque peguei a viola
E pra ele fui cantar
Um verso do Patativa
E ele foi se acalmar

Peguei um lençol de nuvem
Estendi no meu quintal
O sol veio e esquentou
Mostrando ser maioral
E uma estrela azulada
Deu seu brilho magistral.

Uma arara azul fez ninho
Na cumieira de casa
Um beija flor beijou tanto
Que quase perdeu a asa
Que de tanto ela bater
As penas viraram brasa.

Daí coisas mais estranhas
Começaram a acontecer
Um navio tava voando
Vi um avião aparecer
Saiu de dentro do mar
E no seu teto trazer
Um trem maior que o mundo
Que fez meu corpo tremer

Uma vaca avuando
Arrastando um crocodilo
Um leão tava montado
Nas costas de um esquilo
Um jegue assustado indaga:
Que troço feio é aquilo?

Um padre cantando rock
Pai de santo dançando vem
Aparece um hare krishna
E um grande monge também
Uma borboleta feliz
Voa canta e diz amém.

A água que pendurei
No batente da janela
Fez minha imaginação
Acender os olhos dela
Raio e o trovão caiu
Acordei, não vi mais ela.

Eu vi Camões com Neruda
Lendo um livro "CORPO AFLITO"
Do poeta Ronald Freitas
Vi Drummond dizer num grito:
Tem uma pedra no Caminho
Avisem ao Oscarito.

Chame logo Mazaropi
E o Coroné Ludugero
Traga Cecilia Meireles
Ouvir Clarice eu quero
Num verso de Coralina
Gregório eu também venero.

Foi um sonho flutuante
Vindo da inspiração
Da mente de um poeta
Que em cordel faz refrão
E torna tudo possível
Nas asas da imaginação.

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