quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

POEMAS - Luiz Antônio de Carvalho Valverde

 

1.
A dor é um confabulário
as preces vãs tentam apaziguar
o homem com o homem
disperso.

2.
Antes que assuma ares eternos,
a flor se abre,
aureola-se, esvoaça.
Antes que seja tarde,
Tarde até para as estrelas.

3.
O sol brilha
e não há razão maior
para deixar o silêncio
passar, e ir atrás
desse murmúrio de ventos
e folhas, não sei mais,
se ventos ou folhas,
moinho que não para.
Galo, galopes, jegue anunciando as horas.
Na aldeia
um meteoro risca a tarde
do mapa.
**
Macacos me mordam!
Matias
a obra prossegue,
a perfeição não é fácil.
Um vacilo
e a obra se esvai.

Maria,
o grande embargo,
poderia não acontecer
poderia, se não tivéssemos
essa forma final, a for.

Até
onde vai a ingênua
tempestade deste pequeno ser?
Ah! que punhal
que tortura,
hora de ninar ventríloquo,
louco por maçãs.
*
Meu pai, um vago sim em meio
aos lodaçais, não sei o que pensar.
A melodia mantém o paciente à tona,
enquanto rasga o barco águas distantes.
*
Há luz.
A vida prova
que nada fica.
No jardim das delícias, ao lado
de uma súplica, atado
a uma mulher,
volátil centauro.
Caio por terra,
o vinho
escorre, seu corpo
me deixa fulvo, acabo de sorrir
e canto e gozo a volta
no raso das adolescências.
Deito.
*
O tempo vai mesmo muito calmo.
A porta de gonzos chia.
O galo
gonga o bêbado,
apaga a vela.
Espalha os búzios
e decifra o reinado.
O dia pede passagem,
o último poeta levanta a saia
ensaia
a dança.

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