quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O CICLISTA - Luiz Geraldo Mazza

 

Era preciso
um novo Dom Quixote
viajando sobre duas rodas
para enfrentar
com o guarda-chuva
a despoetização do homem
e desvelar em meio
às engrenagens
a íntima alegria dos cães
e direito dos canários
ao sol roubado
ao reflexo das janelas.
Nesse protesto
ao ovo esterilizado
aos portões eletrônicos
esvazia nas ruas,
ao canto dos meninos,
a gabolice das mulheres
na feira e o parentesco
dos homens no barzinho,
mergulhando relógios
em copos de cerveja
Entre células fotoelétricas
que movem marionetes nucleares
só o teu assobio
a bicicleta antifuncional
reconstroem o homem sem pressa
e a balada das flores necessárias.

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