domingo, 2 de janeiro de 2022

SOLFEJO – João Garção

 

Meu menino, ino, ino
meu menino do cinzel
Se olhares para o horizonte
verás S. Pedro de Muel

Meu menino, meu menino
meu menino do Choupal
Se olhares para o oceano
tu verás o Cadaval

Meu menino, meninão
meu menino da pistola
Se olhares p’ra dentro dum morto
verás Moçambique e Angola

Verás o não e o sim
meu menino face preta
Se olhares para a tua imagem
‘starás no céu da Fuzeta

Num almoço ao pé do Douro
lá p’ró norte do país
Se olhares p’ra cima do mundo
cair-te-á o nariz

E se fores ao Estoril
a S. Roque e a Albufeira
um fantasma aparecerá
de repente à tua beira

Meu menino, ino, ino
meu menino desgraçado
Se olhares para tudo o resto
ficarás do outro lado

Entre um ponto circunflexo
um parêntesis e um til
Se souberes todas as letras
descobrirás o Brasil

Meu menino, meninote
meu menino brincalhão
Se não andares num fagote
perderás o coração

E hão-de partir-te a cabeça
meu menino, minha estrela
Se olhares p’ra baixo da morte
não poderás fugir dela.

Toma cuidado, menino
ao chegar e ao partir
Se não procurares a Vida
nem dela poderás fugir!

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