quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

DOIS POEMAS – Brasil Barreto

 

QUEDA LIVRE

Permita que se esvazie
como um anjo de masmorra,
partido será o grito
nesse mar de granito.

Como uma rês em osso
soçobro nos ecos dos tempos
d'uma flauta de vértebras,
nas curvas do vento.

Sou palavra em queda,
refletida no fundo do poço
não fale, pois eis que
nada, já não ouço.

Ainda ao fim de hoje
serei como palavra
em eterna queda livre.
........
REVERSO

Hoje acordei cedo.
Senti o avesso de mim.

Ardi como um sol
num clarão de marfim,

frugal como a luz
flamada no viés da tarde.

Nos meus confins
sou o reverso de tudo
no inverso do fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário