sábado, 22 de janeiro de 2022

DOIS POEMAS de Ruth Maria Chaves

 

QUARTETOS À ESFINGE

Árduo colosso
ardes deserta:
no corpo fera
face donzela.

Não te consome
o tempo. Tara
híbrida morte
quem te aplacara!

Mas te defronto,
jogo sinistro.
Teu olho - voo
ad infínitum

(irado sono)
é raro lince
a que não ouso
valer-me esfinge.

Não me proponho
antes suplico:
diva demônio
enigma signo.

Senhora fado
mais inflexível,
último santo
dos impossíveis!

Crispo-me calo,
pássaro branco.
Renego raivo
em mim e morro

que amor não livra
meu fogo e choro.
Oh, tu! Decifra-me
ou me devoro.
......
SONETOS DE ABRIL

(VIII)
Pelas veredas lentas desse abril
chegarás, companheiro dos crepúsculos,
e silêncio tão vasto vinga em ti
que o azul retém seus pássaros mais bruscos.

Como ficaste em mim, de mim ausente!
Que constância de ti é meu socorro
agora (é mais que amor) que és dom e és tempo
e de tempo e de adeus se fez teu ouro.

Astro livrado às vastidões, mas fixo
aceso em sombras pelo céu se esbate
teu rosto irreversível, quase um signo,

que além do tempo tange eternidades.
Somos sombras de nós, abris remotos,
e as horas entardecem nos teus olhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário