quarta-feira, 25 de novembro de 2020

SONETO DA TARDE – Selene de Medeiros


Venho da tarde, a tarde azul de ressonâncias,
de brisas e canções, cigarras, grãos de trigo.
Ungiu-a de ouro o vale, e trouxe das distâncias
um cheiro bom de espuma e de rosal antigo.

E assim vestindo tarde ao teu encontro sigo,
e levo o resplendor de todas as infâncias.
Sou pólen, sou cristal, clareira... e vão comigo
brisas, névoas, canções, espumas e fragrâncias.

- Foi por amor que vim - direi. Mas tu, disperso,
nem me ouvirás sequer. E passará meu verso,
tantas réstias de luz sem que possas detê-las...

Mas deixarei contigo a tarde e o seu tesouro,
a estranha floração de espumas, brisas de ouro,
poemas, névoas, canções, pólens, cristais, estrelas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário