segunda-feira, 16 de novembro de 2020

BROADWAY – Vladimir Maiakovski

 

Foto: Maiakovski no centro de Nova Iorque
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Tradução de Paulo Ferraz
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O asfalto - é vítreo.
E o som grave nos
passos. Bosques e folhas
de relva - no limite.
Do norte
para o sul,
pegue as avenues,
do oeste para o leste,
- as streets.
No meio -
(onde o construtor quis tê-las) -
o tamanho
das casas tumultua.
Umas
são imensas como estrelas,
outras
- vão até a lua.
Yankees
são preguiçosos
para andar não têm gana:
o elevador
comum e o expresso.
Às 7 horas
sobe a maré humana,
às 17 horas -
ela se esparrama.
O mecanismo range
numa algaravia vã,
e não há na rua
quem se relacione.
Só refreiam
a mastigação do chewing gum
para soltar um
“make money?”
A mãe
amamenta o nenê
que a seu seio o cola.
O nenê,
com o nariz escorrendo,
suga
como se não fosse
uma teta, mas one dollar
entretido
em sérios
negócios.

Fim do expediente.
O corpo se sabe o ei-
xo contínuo
de um elétrico vetor.
Quer ir para o subterrâneo?
- tome o subway
para o céu?
- então, um elevator.
Os vagões
partem e deixam
um rastro de fumaça sem fim,
passam
rente aos calcanhares
das casas
para pôr pra
fora uma cauda
na ponte do Brooklyn
e se enfiar
numa toca
sob o Hudson.
Uma sonolência
te
envolve no breu.
Mas
como cascos num galope
no escuro
a mente escuta:
“Coffee Maxwell
good
to the last drop”
Uma lâmpada
se põe a
cavar a treva.
Bem, contarei a vocês:
- que deslumbrante!
Olhe pra esquerda:
- nossa, mãe, não se atreva!
pra direita:
- mamãezinha, isso é um desplante!
Isso pode ser demais para os de Moscou, pode, eu sei!
Um dia só não basta,
o fim é um tabu.
Isso é Nova Iorque.
Isso é a Broadway.
How do you do!
Estou encantado
por essa cidade.
Mas
de meu chapéu
não me descubro.
Nós soviéticos
temos muita autoestima
Para a burguesia
nós olhamos de cima.

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