domingo, 11 de outubro de 2015

O NOVO DO NOVO – Rafael Rocha – Do Livro “Poemas Escolhidos”

Eu posso escrever um poema
Sentado à beira de um abismo
Se alguém ofertar esse tema
Pra fugir do romantismo
E no digitar dessas letras
Palavras são minhas filhas
Que de tão incestuosas
São as putas mais dengosas
Seguindo as minhas trilhas

Eu posso escrever mil versos
Nascidos de nenhum lugar
Vivendo os brilhos reversos
De algum eclipse lunar
Criado nas noites escuras
Depois de meu lamentar
A morte de um velho mundo
Sublime e muito profundo
E de ousadia exemplar

A poesia é uma arte
(De origem muito mansa?)
Ela faz a sua parte
E se bem calma descansa
É porque o seu poeta
Preferiu viver em paz
E esqueceu suas vozes
Pedindo versos ferozes
Na vida em que ele se faz

Quero a poesia felina
Feito fêmea delirante
Gritando ali na esquina
Uma canção deslumbrante
Tirando a roupa na rua
Pronta para a possessão
E pra não cair no tédio
Não existe melhor remédio
- Fazer amor pelo chão -

E assim desvairados
O poeta e a poesia
Geram versos desgarrados
Mas cruéis de nostalgia
Filhos que chegam e partem
Aos olhos dos seus leitores
Buscando-se como amantes
Para em gozos delirantes
Tornarem-se novos amores!

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