Uma língua de fumo, enorme, bamboleante,
Vai lambendo o infinito - espessa e fatigada.. .
É a fumaça que sai da chaminé bronzeada
E se condensa em nuvens pelo espaço adiante!
Dir-se-ia uma serpente de inflamada fronte
Que assomando ao covil, ameaçadora e turva,
E subindo... e subindo... assim, de curva em curva,
Fosse enrolar a cauda ao dorso do horizonte!
Mas, não! É a chaminé da fábrica do outeiro
- Esse enorme charuto que a amplidão bafora -
Que vai gerando monstros pelo céu afora,
Cobrindo de fumaça aquele bairro inteiro.
Ouve-se da bigorna o eco na oficina,
O soluço da safra e o grito do martelo...
Como tigres travando ameaçador duelo
As máquinas estrugem no porão da usina!
É o antro onde do ferro o rebotalho impuro
Faz-se estrela brilhante à luz de áureo polvilho!
É o ventre do Trabalho onde se gera o filho
Que estende a fronte loura aos braços do Futuro!
Um dia, de uma ideia uma semente verte,
Resvala fecundante e, se agregando ao solo,
Levanta-se... floresce... e ei-la a suster no colo
Os frutos que não tinha - enquanto estava inerte!
Foi o germe da Luz, a flor do Pensamento
Multiplicando a ação da força pequenina:
- De um retalho de bronze ergueu uma oficina!
- De uma esteira de cal gerou um monumento!
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