Quando era noite, atrás daquela porta,
junto a uma vela duas velhas riam
Matando aos poucos uma aranha torta.
junto a uma vela duas velhas riam
Matando aos poucos uma aranha torta.
E a alegria que elas dividiam
Poucos tiveram já no mundo um dia,
Mas os que a achavam sempre a bendiziam.
Poucos tiveram já no mundo um dia,
Mas os que a achavam sempre a bendiziam.
Cheia de medo, a criatura fria
Dançava horrível rente de uma chama
Que lentamente o corpo lhe roía,
Dançava horrível rente de uma chama
Que lentamente o corpo lhe roía,
E as velhas rindo a observar da cama
Iam falando sobre de que modo
Com dor mais lenta um corpo vil se inflama.
Iam falando sobre de que modo
Com dor mais lenta um corpo vil se inflama.
Espécie estranha de um vivente lodo,
Sendo corcunda e só com sete pernas
A aranha uivava por seu corpo todo
Sendo corcunda e só com sete pernas
A aranha uivava por seu corpo todo
Que se expandia em inchações externas
Causando às velhas, com o vermelho horrendo
Do seu ardor, as sensações mais ternas…
Causando às velhas, com o vermelho horrendo
Do seu ardor, as sensações mais ternas…
Emocionadas, com as mãos tremendo,
Vieram então com um bando de alfinetes
Que em cada pata foram se prendendo,
Vieram então com um bando de alfinetes
Que em cada pata foram se prendendo,
E a aranha presa de mil cacoetes
Foi só os espinhos de uma prata ardente
Que a recobria em infernais coletes.
Foi só os espinhos de uma prata ardente
Que a recobria em infernais coletes.
E nesta arte foram indo em frente,
Depois agulhas, e um perfume ardido,
E ao fim de tudo uma tesoura ingente,
Depois agulhas, e um perfume ardido,
E ao fim de tudo uma tesoura ingente,
Até que o fogo e o animal vencido
Murcharam juntos sobre a mesa irada
Em mil pedaços de um negror transido,
Murcharam juntos sobre a mesa irada
Em mil pedaços de um negror transido,
E ambas as velhas, conhecendo o nada,
Com face imensa devoraram tudo
Que lhes restava da fatal jornada.
Com face imensa devoraram tudo
Que lhes restava da fatal jornada.
Enquanto, a olhá-las, um retrato mudo
De seu marido ia chorando as dores
Que o recobriam no ancestral escudo,
De seu marido ia chorando as dores
Que o recobriam no ancestral escudo,
E todo o chão ia se abrindo em flores
E uma criança, que ninguém notara,
Pela janela olhava sem temores
E uma criança, que ninguém notara,
Pela janela olhava sem temores
E ia crescendo, e de uma forma rara,
Enquanto as velhas, enxugando as portas,
Varriam tétricas, na noite clara,
Enquanto as velhas, enxugando as portas,
Varriam tétricas, na noite clara,
Todo o amargor das profecias mortas!
Uma poesia sobre a vida, numa determinada
ResponderExcluirperspectiva.
Abraço a todos os poetas vivos.
Irene Alvs