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segunda-feira, 18 de abril de 2022

POEMAS de Inocêncio Melo Filho

 

O FINGIDOR

Abri o jornal
Sentei-me no banco da praça
Fingi não ter afazeres
Fingi tão perfeitamente
Que os transeuntes me destinaram
Olhares ásperos.
.................
BUSCA

Não és minha nem do seu amado
Aposse que existe entre nós
É apenas uma realidade utópica
Tu seguirás o sol ou a lua
Num dia desses...

As significações cairão por terra
Deixando em nós
O lógico vazio da existência
...........
ETERNAMENTE
Para José Alcides Pinto
....
Trago sua biografia
Dentro de mim
Não a publicarei
Guardá-la-ei no sacrário
Das minhas memórias
Para que a saudade de ti
Seja eterna
........
LIÇÃO DO TEMPO

Eu sou poeta
Funcionário público e pai de família.
Já fui o herói dos meus pimpolhos
mas o enredo se transfigurou.
A nova trama me assusta
Perdi o domínio do texto
e minha voz se perdeu no barulho.
O tempo me diz que é assim mesmo.
Subsistir é o princípio
para que se alcance o final da história.
..........
NEVER MORE
Para José Alcides Pinto
...
Nunca mais festejarás minha chegada
Nunca mais nos diremos palavras belas
Nunca mais teceremos elogios mútuos
Nunca mais tomaremos chá entre livros
E palavras
Nunca mais caminharei ao seu lado
Nunca mais me lerás Rimbaud.
Nunca mais deixarei de ser saudoso
E os meus olhos terão sempre lágrimas
Por companhia...

segunda-feira, 11 de abril de 2022

DOIS POEMAS de Alexandra Vieira de Almeida

 

A NEGRA COR DAS PALAVRAS

A negra cor das palavras,
rasgando minha pele abismal

No sono dos mortais,
encontro a imortalidade da chama
que queima o corpo da manhã

Na noite dos apaixonantes véus,
o delírio do verso esférico
como a bola da lua em cristal de espumas

Não digo o verbo de espinhos
qual sangue que fere o tempo
Digo a palavra bruta
que tece os terçóis do sol

Na languidez do mapa,
o itinerário das negras letras
a faiscar um caminho para o Paraíso.
...................
O PÁSSARO NEGRO

Ele era o barulho do vazio,
se fazendo lenda no voo da violência

Livre pelo ar,
adocicava a natureza
com sua cor bendita

Rei entre os pássaros,
não se gabava de ser peão
mas imperava no meio da floresta
com seu canto de hinos e versos selvagens

Mas o homem que não era lenda,
só escória no meio do mundo
dispara o tiro mortal
em que o vermelho da dor
era o sublime cântico da vida.