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segunda-feira, 21 de março de 2022

POEMAS de Flora Figueiredo

 

VENTO NOVO

Estava enrolada
em teias e traças,
debaixo da escada,
lá no subsolo
da casa fechada.
Começava a tomar ares de desgraça.
Manchada do tempo,
fenecia
a esperar que um dia
alguma coisa acontecesse.
Antes que se perdesse completamente,
sentiu passar um vento cor-de-rosa.
Toda prosa, espanou a bruma,
pintou os lábios
e sem vergonha nenhuma
caprichou no recorte do decote.
A felicidade volta à praça
cheia de dengo e de graça,
com perfume novo no cangote.
........................
RETIRADA

Respeite o silêncio
a omissão,
a ausência.
É meu movimento de deserção.
Abandonei o posto,
rompi a corda,
desacreditei de tudo.
Cansei de esperar que finalmente um dia,
minha fotografia
fizesse jus ao seu criado-mudo.
...........................


Estou perdidamente emaranhada
em seus fios de delícias e doçuras.
Já não encontro o começo da meada,
não sei nem mesmo
se há uma ponta de saída,
ou se a loucura
vai num ritmo crescente
até subjugar a minha vida.
Não importa.
Quero seus nós de seda
cada vez mais cegos e apertados
a me costurar nas malhas e nos pelos.
Enquanto você me amarra,
permanece atado
na própria trama redonda do novelo

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

POEMAS de Beatriz Alcântara

 

INTROMISSÃO

como um cachorro vadio que entra inesperadamente
numa fotografia
vejo o tempo invadir meu corpo e dizer que a
maturidade chegou
vejo a sensatez apoderar-se de minha
alegria e dizer acabou
......
ON THE ROAD

nesta bruma seca
minhas mãos tensas ao volante
trilham caminho quase certo
tudo parece pulsátil
o silêncio de que falam
as pedras
a acre secura que cheira
a chuva
as ausências que assolam
tua presença
tudo parece volátil
nas tiras uniformes do asfalto
que não se prendem e rolam
monótonas
sob o carro
......
RÉVEILLON

A noite feita de copos
encontrou-a virgem pura
distribuindo uvas
gritando imprudente:
- Feliz Ano Novo!

Depois desejou uma nuvem
caminhou na esteira da lua
ouviu o canto da pedra
bebeu o hálito do orvalho
chorou o anil do branco
e ao desprender-se da janela
contraiu núpcias com o ano que findou.