domingo, 13 de setembro de 2015

PRAÇA DA REPÚBLICA DOS MEUS SONHOS - Roberto Piva

A estátua de Álvares de Azevedo é devorada
com paciência pela paisagem de morfina 
a praça leva pontes aplicadas no centro de seu corpo
e crianças brincando na tarde de esterco 
Praça da República dos meus sonhos 
onde tudo se faz febre e pombas crucificadas 
onde beatificados vêm agitar as massas 
onde Garcia Lorca espera seu dentista 
onde conquistamos a imensa desolação dos dias mais doces 
os meninos tiveram seus testículos espetados pela multidão 
lábios coagulam sem estardalhaço 
os mictórios tomam um lugar na luz 
e os coqueiros se fixam onde o vento desarruma os cabelos 
delirium tremens diante do Paraíso
bundas glabras sexos de papel 
anjos deitados nos canteiros cobertos de cal água fumegante
nas privadas cérebros sulcados de acenos 
os veterinários passam lentos lendo Dom Casmurro 
há jovens pederastas embebidos em lilás 
e putas com a noite passeando em torno de suas unhas 
há uma gota de chuva na cabeleira abandonada 
enquanto o sangue faz naufragar as corolas 
Oh minhas visões lembranças de Rimbaud
Praça da República dos meus Sonhos
última sabedoria debruçada numa porta santa

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