quarta-feira, 8 de março de 2023

PARA TRÁS – Xavier de Carvalho

 Quando um dia eu parti da alegre Ermida
Das minhas puras ilusões da Infância,
Essa alma toda a transpirar fragrância
Nem pressentiu os transes da partida...

Andei... Um dia, a estremecer com ânsia,
Pondo os olhos na estrada percorrida,
Vi meus Sonhos caindo de vencida
Apagados nas brumas da distância...

E eu quis ir para trás, num doudo assomo...
Oh! mas toda a extensão da estrada incalma
Vi-a entulhadas por montões de escombros...

— Queres voltar, meu coração, mas como?
Se tens tantos Vesúvios, dentro d´alma
E um milhão de Termópilas nos ombros?

POEMA DA DESPEDIDA – José Ángel Buesa


- Tradução de Rafael Rocha Neto -

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Digo-te adeus e mesmo assim eu te quero, todavia

Não hei de te esquecer, mas eu digo adeus

Não sei se me quiseste... Não sei se te queria...

Talvez quisesse demasiados carinhos teus.

 

E um carinho triste e apaixonado e louco

Plantei dentro de mim para amar somente a ti

Não sei se amei muito... Não sei se amei pouco

Mas sei que jamais voltarei a amar assim.

 

Eu tenho teu sorriso dormindo em minha mente

E o coração me diz que jamais te esquecerei

Porém, sozinho, sentindo o fim permanente

Talvez comece a te amar como nunca te amei.

 

Digo-te adeus e quiçá com essa despedida

Meu mais formoso sonho morra dentro de mim

No entanto, digo-te adeus por toda minha vida

Ainda que essa vida continue pensando em ti.

sábado, 4 de março de 2023

NAVEGADOR CORAÇÃO – Giselle del Pino

 

Escuta
o fado
E agoniza hereditária.
Se a dor e a solidão
É teu brasão,
Desprenda-se do destino fatal.

Quantas pontes,
Abismos,
Escalar montanhas.
Quantas dores,
Arranhões,
Fissuras.
Ai! Como dói crescer!

Escuta o ritmo de corações afinados,
É pro teu peito que o meu grita.
Leva-me pra sala,
Bote-me ao seu lado
Num pôster sobre o bar...
Escuta o fado.

Minha alma,
É além mar.
Navegador coração
Que aprisionado em porões corsários,
Só deseja chegar.

sexta-feira, 3 de março de 2023

MEADOS DE MAIO – Irene Lisboa

 

Chuvoso maio!

Deste lado oiço gotejar
sobre as pedras.
Som da cidade ...
Do outro via a chuva no ar.
Perpendicular, fina,
Tomava cor,
distinguia-se
contra o fundo das trepadeiras
do jardim.
No chão, quando caía,
abria círculos
nas poçinhas brilhantes,
já formadas?
Há lá coisa mais linda

que este bater de água
na outra água?
Um pingo cai
E forma uma rosa...
um movimento circular,
que se espraia.
Vem outro pingo
E nasce outra rosa...
e sempre assim!

Os nossos olhos desconsolados,
sem alegria nem tristeza,
tranquilamente
vão vendo formar-se as rosas,
brilhar
e mover-se a água.