terça-feira, 17 de março de 2015

CLEÓPATRA - Alberto Samain

 (Tradução de Álvaro Reis)
 
Densa, a noite a pesar sobre o Nilo obscuro.
Cleópatra, arrebatada à luz fria e esplendente
dos astros, afastando as servas, de repente,
rasga as vestes num gesto impudico e seguro.
 
De pé, no alto terraço, a plástica imponente
 mostra cheia de amor como um fruto maduro!
 Toda nua, ela vibra, ignívoma serpente,
do vento ao morno beijo, alva, no cimo escuro.
 
Ela quer tenha o mundo esta noite o perfume
da sua carne! E ao olhar, fulge-lhe estranho lume...
- sombria flor do sexo esparsa no ar noturno

- E a Esfinge, pelo areal do tédio taciturno,
sente um fogo invadir-lhe o impassível granito,
- e um frêmito percorre o deserto infinito...

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