quarta-feira, 20 de maio de 2015

O BARRO – Adília Ribeiro Quintellas

O barro
O barro vermelho
Recobre os pés e o cabelo
Embota as ideias, que viram pedras

O barro emoldurando as ruas
Barro nas minhas mãos e nas tuas

O barro no vento
Nevoeiro vermelho

No ar confuso tua imagem difusa
Quilômetros de estradas de barro
O carro fica vermelho
Até chegar a ti, não longe

Sobre a estátua, barro que imita o bronze
Mas se desfaz na chuva
Vira rio de lama
Que fica lá parado, secando
Até virar deserto

Mais um dia de espera
Meus poros duros de barro sufocam
O suor tem que atravessar paredes
Lágrimas, nem pensar

O vento começa a soprar
Vai me cobrir de barro
Até eu sumir
Vou virar parte do chão
Vou ser um fóssil
Memória da solidão

Um comentário:

  1. Gostei muito desta poetisa e de conhecer o seu barro.
    Os meus cumprimentos.
    Irene Alves

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