segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

BIGODE – Mariana Payno

por uma dessas assimetrias da natureza
- talvez a mesma que a fazia carregar tamanhos diferentes nos olhos,
os pelos cresciam-lhe mais do lado direito do rosto

um bom observador logo percebia
algo que não barba
mas um emaranhado de confusões

como cócegas
ou alegrias
de perto

a despeito disso
importante fazia-se o bigode
(este, sim, perfeitamente estabelecido em seu lugar)

digno de técnicos de futebol,
bandidos dos anos 1950,
aristocratas,
surrealistas,
qualquer mexicano ou português,
quem sabe um gato

movia-se acima da boca
com naturalidade felina

sorria
como a malícia infantil de dick vigarista,
um poema com duas estrofes de leminski,
o quadro mais famoso de dali

e por mais cinco minutos
(os corriqueiros)
— esticados na cama

a felicidade roçaria a nuca
escovada
no silêncio das manhãs.

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