I
Dói na alma ver a seca no sertão:
toda a caatinga tem a cor da cinza;
a água do rio esconde-se na areia;
mugem as vacas dolorosamente.
As moças e os meninos (tão magrinhos!)
estão catando os últimos capulhos
do algodoal. Ele florara em junho,
mesmo com a rara chuva que o molhou.
Verdes, apenas os mandacarus,
os xiquexiques e os ásperos juazeiros:
verdes, mas defendidos por espinhos!
Por sua vez, o homem também protege,
com a pouca fala e o rosto duro, a abelha
que lhe fabrica o mel no coração...
II
Abro a janela. A terra está feliz:
toda molhada, trêmula de frio.
Mas a cidade é muda nas calçadas:
ó meninos, já não gostais da chuva?
Minha terra se molha como a gente.
Quer dizer: na mais íntima alegria.
Ela mata saudades. Era tempo.
Como eu gosto das árvores na chuva!
Chuva não é somente o sono bom,
a música macia no telhado:
é o pão-nosso, também, de cada dia.
Feito as mulheres grávidas, a terra
vai ficar terna, vai ter olhos úmidos,
vai fechá-los, com medo dos relâmpagos...
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