I
Boca de alma que se
enfeita
Em rezas, cantos de
amor...
- Não há lira mais
perfeita
Que a do povo,
trovador.
Prantos tristes,
emoções,
Choros de fogo e
paixão,
Tudo ele anima em
canções,
Nas cordas do
coração.
Almas de noivas
errantes,
No céu da alma a
vibrar,
Ele celebra, em
descantes,
Quando se põe a
evocar...
É olhá-lo: no modo
triste
Há expressões
traduzindo
Quanto bem que não
existe,
Quanto mal que ainda
é lindo!
O olhar tem certa
beleza
Que entristece e
dói... Assim
Deve ter sida a
tristeza
Das faces de
Bernardim!
Menina e Moça inda
pura,
Perdida por seu
encanto,
É a noiva que ele
procura,
O Encoberto do seu
pranto!
Só o povo português
Tem a intuição
acertada
Que acorda no
montanhês
Visões de vida
passada.
Ecos de longe.
Montanhas.
Contendas bravas,
velhinhas.
E chamam por mães
estranhas:
- Senhoras, Donas,
Rainhas!
Donde virá tal
nobreza?
De que grau de
geração?
- É que a gente
portuguesa
Tem sangue de
condição.
Vem o. sol - cresta-lhe
as veias:
E, em delírio, perde
o tacto.
Busca a dança - ardem-lhe:
as veias:
É o pulso de Viriato!
II
O povo humilde a
cantar
Abre em doçura de
asceta.
Sai à rua, está luar,
Solta uma queixa, - é
poeta.
Nos seus poemas,
corados
Nos vergéis, em tardes
belas,
Espreitam lábios
rosados,
Olhos garços de
donzelas.
É a gente esquecer-se
a ler
Tal poema sempre novo
E encontrar uma
mulher
Em cada trova do
povo.
Ingénuas virgens que
passam,
Serenas, de passo
mudo,
Levam bocas que se
enlaçam
Noutras bocas de
veludo.
Umas, de rostos de
rosas
Frias, brancas, já
mortais;
Outras em cores
melindrosas
De céus espirituais.
E todas tão
delicadas,
Tão cheias de puro
encanto
Como a cinzel bem
talhadas
De um génio que fosse
um santo!
São Marias da
inocência,
Da graça nata e
servida;
Corpos de nívea
fulgência
Sem a mancha própria
da vida.
Outras, Ofélias
doridas
De quanto amor
desgraçado!
Tendo ainda as rosas
caídas
Sobre o manto de
noivado.
E todas passam e lá
vão
Na luz do sol ou
luar...
- Venturoso o coração
Do
povo que sabe amar!
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