segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

OFERENDA – Paulo Véras

Trago nas mãos

um resto da noite passada

e entre os dedos o suco das estrelas

que como sábias irmãs

me fizeram companhia

 

Faltou tua orelhinha de búzio

onde eu escutava as marés

e retirava o sal amargo

com a língua em arpão

 

Esta memória de hoje

é apenas o retrato morto

de um corpo com impressões digitais

sobre a pele

Uma lembrança

que traz de volta

uma dor antiga

uma ferida que é uma boca

de tão aberta

 

E este peito

está tão cinzento

que chego a pensar

que chove nas vísceras

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