sexta-feira, 9 de agosto de 2019

UMA NOITE EM SÃO PAULO - Brasílio Machado

Minha terra é o país das serenatas;
Por noites de luar,
Enquanto a névoa, em trêmulas cascatas,
No rio vem boiar,

As flautas, do violão ao som doído,
Aqui sabem dizer
Os segredos do amor, saudades vivas
Dos anos de prazer.

Jamais, em lábios rubros de espanhola,
A cantiga gemeu,
Como uma só das belas serenetas,
Que escuta o nosso céu.

Jamais o gondoleiro do Rialto,
Que a onda acalentou,
Mais doce canto às auras do Adriático
À noite suspirou.

Em meu país, o canto do tropeiro,
Sentado ao pé do lar,
Ou do rancho nos ermos, onde a lua
Encontrou-se a sonhar;

A cantiga do escravo suspiroso,
No exílio do sertão,
Quando ao dia, que morre, ele despede
Sua pátria canção;

As "tiranas" doídas, que a viola,
Chorando desprendeu
Acordam mais o gênio da saudade,
Na sombra deste céu...

Nosso canto aprendeu as melodias,
Seus hinos virginais,
Da cascata no trêmulo murmúrio,
Na voz dos sabiás...

Minha terra é o país das serenatas,
Por noites de luar.
Vinde, filhos do além, ver quanto é doce
Sob a curva do céu aqui sonhar!

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