A mula-sem-cabeça tinha olhos azuis
um dia ela disse ao psiquiatra que, com a vida que
levava, ia acabar ficando louca
não conseguia conversar com os vizinhos
não aguentam mais as novelas de televisão
sentia-se perseguida por ter tantas contas a pagar
um dia ela disse ao psiquiatra que, com a vida que
levava, ia acabar ficando louca
não conseguia conversar com os vizinhos
não aguentam mais as novelas de televisão
sentia-se perseguida por ter tantas contas a pagar
A mula-sem-cabeça não suportava as
recordações da
infância
sua memória desconhecia o nome de uma boneca, de
uma ex-colega de escola
preferia viver sem marido podendo ter um marido
quando bem entendesse
lembrava-se do hálito de café, carne, feijão, e de todos
os hálitos que vêm com o casamento
lembrava-se do choro da criança, das dificuldades de
arranjar empregada e sentia que tudo
isso acabaria por levá-la
ao hospício
então, perguntava: "Qual a origem do meu mal,
doutor?"
A mula-sem-cabeça perdia a voz, a visão e ficava surda
sempre que necessitava de coragem
pra dizer o que pensava
tinha desejos de comer terra , bater a cabeça na parede
sair nua pela cidade e gritar da janela
do seu apartamento que a vida
era uma bosta
infância
sua memória desconhecia o nome de uma boneca, de
uma ex-colega de escola
preferia viver sem marido podendo ter um marido
quando bem entendesse
lembrava-se do hálito de café, carne, feijão, e de todos
os hálitos que vêm com o casamento
lembrava-se do choro da criança, das dificuldades de
arranjar empregada e sentia que tudo
isso acabaria por levá-la
ao hospício
então, perguntava: "Qual a origem do meu mal,
doutor?"
A mula-sem-cabeça perdia a voz, a visão e ficava surda
sempre que necessitava de coragem
pra dizer o que pensava
tinha desejos de comer terra , bater a cabeça na parede
sair nua pela cidade e gritar da janela
do seu apartamento que a vida
era uma bosta
A mula-sem-cabeça disse que não tinha
forças nem
para jogar fora os brincos com argolas de ouro
que faziam tlintlin dentro da
sua cabeça
saía do divã, levantava os braços e perguntava:
"Qual a origem do meu mal, doutor?"
ela só se acalmava cantarolando "quem eu quero não
me quer"
em seguida tinha uma recaída porque essa música
dava-lhe ânsias de se apaixonar novamente
"por quem?" - perguntava - "por quem? se quem
eu quero não me quer?" e aí se acalmava para
piorar em seguida
para jogar fora os brincos com argolas de ouro
que faziam tlintlin dentro da
sua cabeça
saía do divã, levantava os braços e perguntava:
"Qual a origem do meu mal, doutor?"
ela só se acalmava cantarolando "quem eu quero não
me quer"
em seguida tinha uma recaída porque essa música
dava-lhe ânsias de se apaixonar novamente
"por quem?" - perguntava - "por quem? se quem
eu quero não me quer?" e aí se acalmava para
piorar em seguida
A mula-sem-cabeça temia cada vez mais a
proximidade
da morte
sentia-se insegura dentro de casa, no carro e não
conseguia respirar dentro do elevador
desejava matar-se todos os dias às 6 da tarde
evitava esse pensamento pensando em comer o tapete
da sala de visitas ou o pano de chão
uma dia escrevia com sangue um grande poema de
amor
da morte
sentia-se insegura dentro de casa, no carro e não
conseguia respirar dentro do elevador
desejava matar-se todos os dias às 6 da tarde
evitava esse pensamento pensando em comer o tapete
da sala de visitas ou o pano de chão
uma dia escrevia com sangue um grande poema de
amor
A
mula-sem-cabeça cuspia pedras de fogo quando se
enfurecia
e falou com o psiquiatra: "O Senhor duvida que seja
verdade, doutor?"
ele disse que não, pois tudo isso era normal num ser
humano
ela não acreditou porque mesmo assim nada impediria
que acabasse ficando louca
pela manhã, temia olhar-se no espelho, acordar com
a boca torta e até ser presa
A mula-sem-cabeça tinha medo de acabar a vida apenas
como uma personagem folclórico
enfurecia
e falou com o psiquiatra: "O Senhor duvida que seja
verdade, doutor?"
ele disse que não, pois tudo isso era normal num ser
humano
ela não acreditou porque mesmo assim nada impediria
que acabasse ficando louca
pela manhã, temia olhar-se no espelho, acordar com
a boca torta e até ser presa
A mula-sem-cabeça tinha medo de acabar a vida apenas
como uma personagem folclórico
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