De forma geral, os homens não sabem o que é
amor, é um sentimento que lhes é totalmente estranho. Conhecem o desejo, o
desejo sexual em estado bruto e a competição entre machos; e depois, muito mais
tarde, já casados, chegam, chegavam antigamente, a sentir um certo
reconhecimento pela companheira quando ela lhes tinha dado filhos, tinha
mantido bem a casa e era boa cozinheira e boa amante - então chegavam a ter
prazer por dormirem na mesma cama. Não era talvez o que as mulheres desejavam,
talvez houvesse aí um mal-entendido, mas era um sentimento que podia ser muito
forte - e mesmo quando eles sentiam uma excitação, aliás cada vez mais fraca,
por esta ou aquela mulher, já não conseguiam literalmente viver sem a mulher e,
se acontecia ela morrer, eles desatavam a beber e acabavam rapidamente, em
geral uns meses bastavam. Os filhos, esses, representavam a transmissão de uma
condição, de regras e de um patrimônio. Era evidentemente o que acontecia nas
classes feudais, mas igualmente com os comerciantes, camponeses, artesãos, de
forma geral com todos os grupos da sociedade.
Hoje, nada disso existe. As pessoas são
assalariadas, locatárias, não têm nada para deixar aos filhos. Não têm nada
para lhes ensinar, nem sequer sabem o que eles poderão vir a fazer; as regras
que conheceram não serão de todo aplicáveis a eles, porque eles viverão num
mundo completamente diferente. Aceitar a ideologia da mudança permanente
significa aceitar que a vida de um homem está reduzida estritamente à sua
existência individual e que as gerações passadas e futuras não têm, aos seus
olhos, nenhuma importância.
É
assim que nós vivemos, e ter um filho, hoje, para um homem, já não faz qualquer
sentido. O caso das mulheres é diferente, porque elas continuam a sentir a
necessidade de terem um ser que amem – o que não é, nem nunca foi, o caso dos
homens. É um disparate acreditar que os homens também têm necessidade de
acarinhar e de brincar com os filhos, de lhes fazer festinhas. Por mais que
no-lo digam, é um disparate. Depois de nos termos divorciado e de o quadro
familiar se ter desfeito, as relações com os filhos perdem o sentido. Um filho
é uma armadilha que se fechou, é o inimigo que temos de continuar a manter e
que vai acabar por nos enterrar.
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