quarta-feira, 13 de julho de 2022

COSTURA – Diego Rebouças

 

para minha mãe
.......
nave crua do tempo
de pedras pontes presságios

medusas enraizadas
no fundo de uma gaveta

onde dormem traças
e meias sem par

que será do verso erguido
em homenagem à minha avó

costurando bonecas de pano
perdidas nas memórias das filhas

hoje todas grandes
(todas, sem exceção)

era que ano, esse de minha avó,
na praia com cara de sertão?

em que limbo, linha e chita
sua mão ainda hoje exercita

costuras na minha imaginação?
ora veja, tempo, nave crua,

como as coisas são:
da pedra nasceu a ponte

e da ponte o presságio
da mão sumida no verso

perdido na gaveta – qual?
não sei, nem sabe ninguém;

no improviso do resgate, um
novo poema se abre porém,

se enraíza no chão
dos improváveis

como uma flor miúda
inaugura na paisagem

toda uma usina
de sinas insondáveis

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