sábado, 16 de julho de 2022

RIO DOCE - André Merez

 

E o rio que era doce?
A lama matou.
E os peixes, a vida, a população ribeirinha?
A lama matou.
E os sonhos, os desejos, as virtudes e tudo?
A lama matou.

A lama que escorre,
o líquido podre, chorume das almas
dos homens da Vale,
dos homens de cifras,
números,
contratos,
benefícios,
financiamentos de campanhas.

Homens sem poesia,
sem piedade,
sem pêsames,
sem arrependimento.

O rio sem vida vai gritando até o mar
pela justiça que nunca veio,
mas ninguém ouve, estamos surdos
não temos ouvidos para o rio.

O rio se foi,
se perdeu.

E nenhuma urgência é maior
que o rio estendido sem vida no mundo.
O rio morto era doce, acabou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário