terça-feira, 22 de julho de 2014

Como velhice esta agonia desce - Jorge de Sena

Como velhice esta agonia desce
ao fundo em que me encontro só comigo.
E quanto amor trocara então contigo
enfim te dando o que sonhara em anos
se torna apenas máscara de enganos
com que te aceito, como amor antigo,
esse momento de ansiedade e perigo
que no teu rosto as rugas te recresce.
Tu sabes que de perto a juventude
se te queimou no acaso das entregas;
e quanto risco a tua imagem corre
quando não está tão longe que me Ilude,
mas já tão perto que de ciência chegas
a presumir a graça que não morre.
Mas porque sabes, tua graça negas.

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