domingo, 20 de julho de 2014

Translúcido - Paulo Mendes Campos


Rosas raras se alçavam puras.

Eu sonho que vivi sempre exaltado.

 

Amo os danos do mundo, quero a chama

Do mundo, vós, paixões do mundo. E penso:

Estrangeiro não sou, pertenço à terra.

 

Um céu abriu as mãos sobre o meu rosto.

Barcos de prata cantam vagamente.

 

Pensando, desço então pelas veredas

Do mar, do mar, do mar !

Sinto-me errante.

 

Que faz no meu cortejo essa alegria ?

O tempo é meu jardim, o tempo abriu

Cantando suas flores insepultas.

Canta, emoção antiga, meus amores,

Canta o sentido estranho do verão,

 

Canta de novo para mim que fui

Vago aprendiz de mágico, abstrata

sentinela do espaço constelado.

Conta que sempre sou, quem fui, menino.

 

A pantera do mar da cor de malva

Uivava sobre a vaga chamejante.

Eu sonho que vivi sempre exaltado.

Meu pensamento forte é quase um sonho.

Nos meus ombros, o pássaro final.

 

Íntimo, atroz, lirismo a que me oponho.

Quando a manhã subir até meus lábios

Suscitarei segredos novos. Ah!

Esta paixão de destruir-me à toa.

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