sexta-feira, 3 de junho de 2022

POEMAS de Rodrigo Magalhães

 

ASSIM FALHOU ZARATUSTRA

O canguru sabe a sua bolsa,
e o pequeno sabe o que lhe falta.

As abelhas nunca enganaram o pólen,
sabem que é pro voo, sabem que não é de comer.

É quase de trepar.

E os homens, anos a fio,
raspando e polindo a pedra,
o bronze, o ferro,
e era algo de abrir: chave de fenda.

Chave de fenda,
agora,
já é algo de matar.

Manhã,
no trânsito, um rapaz
com o punho acima à procura
de um rapaz abaixo.

Baixou o punho, e o Homo erectus
não mais sabia o que fez da pedra.

Nem as cartas, antes ao poema ou às lágrimas
de canto, de um canto
do rosto que não busca o que aspira,
                                                        anthrax.

Pois Maria, a dos Curies,
já não tinha às mãos o radioativo
quando olharam e constataram:
– General, deve ser de matar.

Logo, desenvolveram no horizonte
a técnica extraordinária
de pender e despencar.

Longe, sob o que era céu
e calou-se escuro,
o Homo sapiens não mais sabia o fogo,

incendiava.
.......
OS FUNGOS

Como já não bastassem, outrora,
enfurnados em meu pão, meu
queijo, minha bebida; o alheio,
o cogumelo do batente, o grão
de Fleming na penicilina ( ainda
o mofo, o ancestral morto na carne
tombando no retrato),
eles insistem lá fora e batem na urna para entrar.

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