sexta-feira, 3 de junho de 2022

SONHO VAGO – Tasso da Silveira

 

Ó branca e luminosa!
Na alcova quieta e silenciosa
que a penumbra parece transformar
Num ambiente imaginário
De cidade lacustre ou num aquário,
Teu corpo claro, fino, transparente,
A se mover preguiçosamente
Como a ondular...

Lembra, nessa nudez que as sombras ilumina,
Sonâmbulo país de águas e brumas,
Visão de uma paisagem submarina,
Em que andas a flutuar...
Como no meio de algas e de espumas
- Uma ninfa, sereia ou estrela-do-mar.

Vendo-te assim, meio acordado,
Eu me deixo embalar
Num esquisito, incomparável gozo,
De deleites estranhos inundado.
Crendo que vou contigo a mergulhar,
Num sonho voluptuoso,
Por entre espaços fluidos de veludo,
-Um país de perfumes e de encanto -
Em que de um vago luar o tênue manto
Amacia tudo...

II
Quantas imagens brancas me sugeres!
- Magnólia, flor dos Alpes, nebulosa...
- Branca lua perdida entre as mulheres!
- Garça, vela no mar, alvor de rosa!

Ao vê-lo assim, tão claro e leve, eu penso
Que o teu corpo, a florir na luz cendrada,
Sonha, dentro da noite, o sonho imenso
Que as rosas brancas sonham na alvorada.

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