quinta-feira, 2 de junho de 2022

OS DIAS MÁGICOS – Salomão Rovedo

 

Braços abertos, correndo contra o vento.
Por que de repente veio essa lembrança?

Só se foi o retrato de um dia da infância,
brincando na areia dura de Olho d'água.

Chorar a vida, se de tudo um pouco eu ri?
Esquecer pequenos amores que não tive?

São sonhos, terra para a lavratura, medos,
plantei-os tais sementes que jamais brotam.

Mas havia o demônio, indômito hóspede,
insaciável, Agnus Dei, libera-me Dominé.

Sobrevivendo à morte e à transfiguração,
arma teleguiada: um coração que explode.

A alegria me alegrou, de tristeza entristeci,
enquanto o tempo disfarça perigosamente.

Enquanto não metamorfosear em calendário,
uma data de nascimento, transporte e destino.

A data na lápide, a citação na enciclopédia,
verbete de biblioteca, livro que ninguém lê.

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