terça-feira, 3 de setembro de 2019

O POETA - Cecil Day-Lewis

Tradução de Renato Rezende

Para mim não existe espanto
Apesar dos danos iminentes.
Aprendi a contar cada dia
Minuto por minuto presente —
Pássaros que o inauguram levemente,
Sombras silenciando o seu fim —
Como os amantes contam como verdade
Seus próprios suspiros, e crêem
Que colhem na floresta do tempo
A única folha da eternidade.

Esta noite a lua está mais cheia.
Lua cheia é tempo de morte.
Mas olho apenas para as nuvens que a escondem
Abaixo de mim a baía está opaca,
Um espelho que não responde —
E me impaciento para que logo passem,
E desejo que a lua de repente possa
Resplandecer sobre mim; então eu tremo
E me faço um rio de doze braços
De luz visionária.

Por agora a imaginação
Meu nobre e impulsivo cisne,
Como seu vôo libertino — posso vê-la —
Pousa leve, um esquiador sobre
Um lago em redemoinho de neve
E lufadas de espuma.
Outra vez sinto
A cura da água tocada.
Nunca antes ela cruzou
Meu coração com tamanha exaltação.

Oh, sobre essa orla que rápida caminha,
A calma da altura de uma campânula
Onde intuições se agitam
Como gaivotas em ninhos, e o conhecimento
E livre como o vento que sopra,
Por um momento me sustente,
Amor, até que seja ouvida minha resposta!
Logo abaixo o esquecimento ruge,
O cordão da morte se estreita: mas em vão
Se eu escapo do mundo que nos leva.

Morrendo, qualquer homem pode
Sentir uma sabedoria harmoniosa, fatal
Na ponta de sua língua insossa.
Tudo o que tenho sentido ou cantado
Parece agora apenas o sono errático
Da lua sobre uma baía nublada,
O voo da cisne fêmea, ou a escalada
Ao trêmulo topo de uma campânula.
Amor, arranca o canto do meu peito!

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