sexta-feira, 29 de julho de 2016

CANÇÃO DO EXÍLIO – Mário da Silva Brito

Com a palavra construo um reino
e nele impero sem lei.
Neste mundo, que com o mundo
confina, sou senhor e servo.

No meu reino de luz e sombra
a palavra, vinda do caos,
fulge em brilho solitário
– solitário sol sem solo.

Busco a palavra, não o senso
(certo perdeste o senso!):
sarcógafo pode ser amor
e amor quer significar morte.

Rodeado de palavras estou
– falsas palavras do mundo.
Entre o dicionário e o verbo
escolho uma gleba secreta.

Envolto de lustral amplidão,
cercado de nuvens e flores,
sou exilado e sou imperador,
sou Deus esculpindo o barro.

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