Pobre, suja, desonrada,
pelos becos violada
por homens que nem tem rosto.
A dor, o ultraje, o desgosto
se transformam em semente.
Barriga cresce, aparece,
empina, torce, contorce
e espirra mais um ente
pra esta peste de vida...
Chega mais um pra desdita
enquanto o beco anoitece.
Demente canta cantigas
de lembranças esquecidas.
E chora ao tempo que ora
pedindo pra que esteja morto
o seu pobre anjo torto...
Mas os santos, adormecidos,
não ouvem o seu pedido
e então entre detritos
o vagido vira grito
urgência, fome de vida!
Tenta calar com um peito
seco, murcho e inútil veio.
E se consola a bendita
é só mais um nesta lida
com a tarefa maldita
de disputar com os ratos
espaço, teto e comida...
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