À CIDADE DE VICÊNCIA/PE
Minha cidade pobre e pequenina!
Virgem rezando aos pés do Sirigí!
E’ simples como as flores da campina,
bendita sejas, terra onde eu nasci.
Cedo, ao fechar seu cálice — a bonina,
olhas o sol! E o sol, cheio de si,
beija-te a silhueta alva e franzina.
Bendita sejas, terra em que eu sofri.
Amo-te assim, calcada e reprimida,
pelos donos de engenhos explorada,
sem pão, sem vestes, sem amor, sem vida.
E’ minha a tua dor. São meus os ais
que os teus carros de boi deixam na estrada,
levando o sangue dos canaviais.
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BENDITA CEGUEIRA
Não vi ciscar a terra
o pintainho,
nem vi no lago
espreguiçar-se a lua.
Não vi num ramo
balouçar-se o ninho,
nem no dorso do mar
vi a falua.
Não vi, em frente, o
rumo ao meu caminho...
Vi ruidosa e deserta
cada rua...
Meu ser em toda a
parte vi sozinho...
Não vi o mato verde,
a pedra nua...
Mas se não vi a graça
de uma flor,
Nem plumagem de
pássaro cantor,
Bendigo o que não vi,
para bem meu...
Não vi o olhar de
quem renega...
E a dor de minha mãe
ao ver-me cega...
E o rosto de meu pai,
quando morreu...
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