quinta-feira, 28 de junho de 2018

SER MULHER E DESASSOMBRAMENTO - Carmen Cinira



Ser mulher não é ter nas formas de escultura,
No traço do perfil, no corpo fascinante,
A beleza que, um dia o tempo transfigura
E um olhar deslumbrado atrai a cada instante

Ser mulher não é só ter a graça empolgante,
O feitiço absorvente, a lascívia e a ternura
Ser mulher não é ter na carne provocante
A volúpia infernal que arrasta e desfigura ...

Ser mulher é ter n'alma essa imortal beleza
De quem sabe pensar com toda a sutileza
E no próprio ideal rara virtude alcança !

É ter, simples e pura, os sentimentos francos,
E, ainda, no fulgor dos seus cabelos brancos,
Sonhar como mulher, sentir como criança !
......................
DESASSOMBRAMENTO

Que me aguarde, por pena, o mais triste dos fados,
e clamores hostis me sigam pela vida,
que floresçam vulcões nos montes sossegados
e trema de revolta a Terra adormecida…

Que se ergam contra mim os seres indignados
        como um quadro dantesco em fúria desmedida,
        e que, na própria altura, os astros deslocados
        rolem numa sinistra e tremenda descida…

Hei de ser tua um dia e ofertar-te, sem pejo.
        vibrante, ébria de amor, á chama de teu beijo,
        esta alma virginal que há tanto assim te espera…

E então hei de sentir vaidosa, intensamente,
        desabrochar em mim, num delírio crescente,
        o instinto de mulher em ânsias de pantera!

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