sábado, 5 de dezembro de 2020

TRANSEUNTE VIAJANTE – Rafael Rocha

 

Do livro “Contos Delirantes com Versos em Bolero” – 2017
............................

Quando da mente e do corpo
a paixão expira
a esperança morre
como o ator que se retira
de um palco por não ter
plateia alguma.
Resta no teatro da vida
apenas dissabor
e o enredo que um dia
chamaram de amor
dissolvido em eterna
e merencória espuma.

Atores estão lutando
com perseverança
acreditando simplórios
– existe esperança
e novas alegrias nascerão –
Esqueceram a tempestade
a levar o navio
a naufragar no oceano
ao vir do rio
onde a barca de Caronte
navega na escuridão.

E no estio do tempo
na busca de aventuras
poetas criam versos
repletos de obscuras
ilusões antigas a matar
sonhos de glórias.
Os olhos voltam ao passado
e só restam lágrimas
na revelação da dor
das suas rimas
e nas tristezas
de suas histórias.

Eis um corpo vivo
transeunte viajante
tentando recriar
a trilha do comediante
para a plateia imbecil
gargalhar e sonhar.
Só não pode mais
mergulhar em repouso
seus versos querem
o ritmo poderoso
da correnteza que o leva
direto para o mar.

Assim no vazio do teatro
eis a peça inédita
saindo da voz do ator
como uma prédica
ao mundo louco e maldito
onde a vida cresceu
sem motivos de ser
encaminhada à morte
sem deuses para crer
mas a se fazer consorte
do frio a enregelar o amor
que feneceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário