O poeta francês Félix Arvers escreveu este soneto no álbum de uma jovem
de 19 anos, comprometida, recatada e dotada de muita inteligência,
Marie Mennessier-Nodier.
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SONNET – Félix Arvers
Mon ame a son secret, ma vie a son mystère,
Un amour eternel en un moment conçu;
Le mal est sans espoir, aussi j'ai dú le taire,
et celle qui l'a fait n'en a jamais rien su.
Helas! j'aurai passé près d'elle inaperçu
Toujours à ses côtés et toujours solitaire;
et j'aurai jusqu'au bout fait mon temps sur la terre,
n'osant rien demander, et n'ayant rien reçu.
Pour elle, quoique
Dieu l'ait faite bonne et tendre,
Elle ira son chemin, distraite, et sans entendre
Ce murmure d'amour elevé sur ses pas;
à l'austère devoir pieusement fidèle,
elle dira, lisant ces vers tout remplis d'elle,
"Quelle est donc cette femme?" et ne comprendra pas.
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A primeira tradução em português no
Brasil do célebre soneto
foi feita por Pedro Luiz no ano de 1880
SONETO DE ARVERS
Guardo um mistério n'alma e na vida um
segredo,
um sempiterno amor que há muito me
enlouquece;
não tem remédio o mal – por isso o
oculto a medo
e aquele que o causou jamais quis que o
soubesse.
Perpasso junto dela e abafo ardente
prece!
Ao seu lado respiro e sempre em um
degredo.
A romagem da vida acabarei bem cedo,
sem que eu nada pedisse e nada ela me
desse.
Terna formou-a Deus, mas – bela
peregrina –
na trilha do dever não vê, não imagina
que eu – mísero – sagrei-lhe amores
imortais.
E, um dia, talvez, diga ao ler em doce
calma
estes versos que assim vibraram de sua
alma:
– “E essa mulher quem é?” – Não cismará
jamais.
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Muitas outras traduções foram feitas por
brasileiros e portugueses, mas melhor deixar por aqui aquela duas mais aceitas
pelos estudiosos, a de Guilherme de Almeida e Olegário Mariano:
SONETO DE ARVERS
Tradução de Guilherme
de Almeida
Tenho na alma um segredo e um mistério na vida:
um amor que nasceu, eterno, num momento.
É sem remédio a dor; trago-a, pois, escondida,
e aquela que a causou nem sabe o meu tormento.
Por ela hei de passar, sombra inapercebida,
sempre a seu lado, mas num triste isolamento.
E chegarei ao fim da existência esquecida,
sem nada ousar pedir e sem um só lamento.
E ela, que entanto Deus fez terna e complacente,
há de, por seu caminho, ir surda e indiferente
ao murmúrio de amor que sempre a seguirá.
A um austero dever piedosamente presa,
ela dirá, lendo estes versos, com certeza:
— "Que mulher será esta?" — E não compreenderá.
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SONETO DE ARVERS
Tradução de Olegário
Mariano
Tenho um mistério na alma e um segredo na vida:
eterno amor que, num momento, apareceu.
Mal sem remédio, é dor que conservo escondida
e aquela que o inspirou nem sabe quem sou eu.
A seu lado serei sempre a sombra esquecida
de um pobre homem de quem ninguém se apercebeu.
E hei de esse amor levar ao fim da humana lida,
certo de que dei tudo e ele nada me deu.
E ela que Deus formou terna, pura e distante,
passa sem perceber o murmúrio constante
do amor que, a acompanhar-lhe os passos, seguirá.
Fiel ao dever que a fez tão fria quanto bela,
perguntará, lendo estes versos cheios dela:
- "Que mulher será esta?" - E não compreenderá.
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Aparentemente, o soneto passou despercebido à moça dos sonhos do poeta.
Félix Arvers nasceu em 23 de julho de 1806 e morreu em 7 de novembro de 1850.
Sua musa, Marie Nodier, faleceu muitos anos depois do poeta. Félix Arvers entrou
na galeria dos imortais com este soneto de amor e sem jamais saber que Marie
Nodier tinha respondido ao soneto com um de sua autoria em seu próprio álbum,
mas que os estudiosos da obra de Arvers consideram apócrifa. E que dizia assim:
REPONDRE AU SONNET
Ami, pourquoi nous dire, avec tant de mystère,
que l'amour éternel en votre âme conçu
est un mal sans espoir, un secret qu'il faut taire
et comment supposer qu'Elle n'en ait rien su?
Non, vous ne pouviez
point passer inaperçu,
est un mal sans espoir, un secret qu'il faut taire
Parfois, les plus aimés font leur temps sur la terre,
n'osant rien demander et n'ayant rien reçu.
Pourtant Dieu mit en
nous un coeur sensible et tendre
Toutes, dans le chemin, nous trouvons doux d'entendre
le murmure d'amour élevé sur nos pas.
Celle veut rester à son devoir fidèle
s'est émue en lisant vos vers tout remplis d'elle.
Elle avait bien compris... mais ne le disait pas.
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E eis aqui a tradução de Edmundo Lys da
pretensa resposta
ao SONETO DE ARVERS por parte da musa
Marie Nodier:
RESPOSTA AO SONETO
Meu amigo, por que, de forma tão sentida,
dizeis que o eterno amor nascido num momento
é uma dor sem remédio, e há de estar
escondida,
e como supor que ela ignora esse tormento?
Vós não fostes jamais sombra despercebida,
nem deveis vos julgar num triste isolamento:
os mais amados vão, às vezes, pela vida,
sem nada receber e sem um só lamento.
Deus, entanto, à mulher, deu uma alma
complacente
e ela por seu caminho irá mais docemente,
se um murmúrio de amor a segue onde ela vá.
Aquela que ao dever deseja ficar presa,
os versos, cheios dela, os sentiu, com
certeza,
e tudo compreendeu... mas nunca ela o dirá.
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