domingo, 19 de abril de 2020

ÚLTIMA FESTA - Rafael Rocha


Se nasci em Olinda devo morrer em Olinda perto do mar
Em qualquer mês ou dia ou ano que ainda não sei quando
Mas espero morrer olhando para a cor de uma tarde olindense
Quando o forte cheiro de maresia emana das ondas do oceano.

Seja o funeral numa sexta-feira para os meus amigos beberem
E brindarem por essa minha passagem de retorno ao nada
Todos terão licença para cantar qualquer tipo de música
Pois o poeta agora é um insensível ao ódio e ao amor.

Possam gritar meu nome para os desesperados da terra
Dando-lhes razão e apoiando todos na loucura de cada um:
- Rafael Rocha está morto! Morreu mais um poeta!

E joguem líquidos cervejeiros sobre meu ataúde de madeira
E dancem e dancem todos os boleros e todos os tangos
  Pois o homem que fui voltou a ser átomo universal.

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