sábado, 2 de janeiro de 2021

TRILHAS SURDAS DO INSONDÁVEL – Fernando Naporano

Em cada nódoa de mofo do sangue :
odor dos desfechos mutilados
indefinição-ouropel transmutada em calcário
trituradas ágatas de despedidas
riozinhos secos por feitiço de outros braços
verde tão amarelado em musgo
cinzas de passeios que foram Mozart

a fonte azul sem regresso a tua boca
o sol do pão que anoiteceu

Tudo isso resiste, reside em limo
lume inarredável largado ao frio
que tem lá sua vidinha própria
em palpitações de puro abandono
um timbre diminuto, acuado
servil às transparências infernais do silêncio
sob tantas lâmpadas apagadas

pelo que não tinha de ser
por tudo o que poderia ter sido

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