segunda-feira, 6 de agosto de 2018

TRÊS SONETOS DE EMILIANA DELMINDA

Do livro Fragmentos D’Alma
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RELÍQUIAS

Nesta velha caixinha abandonada,
que a ação do tempo fez mudar de cor,
retalhos de minh’alma emocionada
guardei, outrora, com carinho e amor...

Relíquias... Eram cantos de alvorada,
e hoje traduzem nostalgia e dor.
Restos mortais de uma ilusão dourada,
vago perfume de sidérea flor.

Ai, tudo o vento do destino leva:
A luz se apaga e, a divagar em treva,
erram lembranças que doridas são!

Na vida é tudo assim! Tudo envelhece
mas, dentro d’alma o sonho não fenece
e o coração... é sempre o coração.
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NOS CAMPOS DA BOCAINA

Tive meu berço ali, á sombra dos coqueiros,
das montanhas azuis na fralda vicejante,
onde o eco repete o canto dos tropeiros,
onde solta a araponga o grito lancinante.

Na rede de tucum, pendente dos pinheiros
embalei-me ao luar de noite fascinante
brinquei sob um doce! de flor dos pessegueiros
com as pedrinhas gentis da fonte sussurrante.

Cresci n'aquelle doce e meigo isolamento,
no loiro macegal curvado pelo vento
das seriemas ouvindo o canto matinal;

e, à monótona voz de prateadas cachoeiras,
dormi no leito azul de lindas trepadeiras,
de amor acalentando o meu primeiro Ideal.
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RESIGNADA

Meu coração é morto e jaz num ataúde
- o peito - sepultura abandonada e fria:
a lira transformada em fúnebre alaúde
geme, á luz do Luar - um salmo de agonia.

Da vida este lutar insano, fero e rude
meu estro sepultou em negra penedia;
mas, do Ideal cor de rosa em lúcida amplitude,
minh'alma vive e sonha em torno da Poesia.

E um lampejo de vida aurífero ilumina    '
minha estrada a seguir. E a crer n'essa mentira,
distingo mais fulgor na estrela peregrina,

mais encantos no eco de esplendida safira!
E, si a dor do martírio essa ilusão fulmina,
- abraço minha cruz e choro sobre a lira !

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