terça-feira, 18 de setembro de 2018

RECALQUE – Rafael Rocha

- Meu amigo, uma beleza ver você ainda vivo
e em busca de palavras não escritas
para o seu mais novo livro!
Ainda lembra as aventuras que fizemos
e as loucuras de amor que convivemos?

- Lembro, sim! E muito mais que as loucuras
recordo as velhas amarguras
e delírios por motivos de paixão.
- Interessante, amigo, que você lembre
as esquisitas tessituras da ilusão.

- Mas, veja, assim como escrevi um livro
(não sei se você leu), mas o personagem
identifiquei inteiro com a sua vida.
E até dei um novo rumo à sua imagem
de poeta sem rumo e sem guarida.

- Ah! Aquele livro! Sim! Eu li de cabo a rabo
e confesso: ele me deixou ensimesmado
ao me ver tão fielmente retratado.
- Não sabia que você tinha lido tudo!
O que achou desse tão fiel relato?

- Não degluti com inteireza plena!
E considero essa obra tão pequena
e tão sem sal que nem lembro as palavras.
- Você continua o mesmo recalcado
olhando os que lhe amam pelo alto!

Mas não esqueça que de todas as estrelas
eu colhi a mais brilhante em meus braços.
- Quer dizer então que você ainda a tem?
Valeu a pena de mim tê-la roubado?
Valeu a pena levá-la aos seus regaços?

- Até hoje não sei! Confesso isso
porque ainda que o tempo já passado
tenha deixado tudo carcomido...
- Então confessa que está arrependido?
Confessa de verdade esse fato?

- Nada disso! Foi apenas uma poesia
cultivando paixões e desenganos
a viver comigo naqueles espaços.
- Assim você me rouba a nostalgia,
vivendo de cantar os meus fracassos.

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